sábado, 22 de janeiro de 2011

Como ser aberto em uma terra fria? Procuro apenas meu Clown.

Portugal está lotado de brasileiros. O mestrado em direito está lotado de brasileiros. Minha casa está lotada de brasileiros. Então o meu contato com os portugueses em sí resume-se ao CITAC (grupo de teatro). Claro que tenho um ou outro conhecido português, mas não mantenho aquele contato diário. E bem o que isso interessa?

Malta do CITAC.

O fato nada novo é que os portugueses são um povo muito mais fechado, silencioso e não muito receptivo em um primeiro momento, até em um segundo momento também, quiçá no terceiro. Explicar-me-ei! Nós, brasileiros, somos à frente do tempo; mal conhecemos as pessoas e, se gostarmos dela, já estamos a dividir histórias, criando certos vínculos, incluindo-a em nosso círculo de amizades, demonstrando carinho e essas presepadas típicas do nosso povo nascido nos trópicos. Mas essa é uma marca registra dos brasileiros ao redor do mundo e, sinceramente, acho isso extremamente positivo. Porém, como tudo na vida tem prós e contras isso carrega um estigma forte.

Sabe aquele "amigo" que fala alto, ri toda hora igual um louco, tem a péssima mania de tocar nas pessoas enquanto fala, é inconvenientemente introsado querendo sempre participar das coisas, mesmo quando não convidado e já acha que é amigo das pessoas?? Pois é, tenho uma impressão que nós temos uma leve inclinação p/ esse tipo de comportamento numa visão portuguesa das coisas. Não sei c deu pra compreender.

Comos as pessoas aqui são mais fechadas, eu ACHO que se sempre estivermos brasileiramente abertos podemos causar esse tipo de reação, um certo... sei lá. Então, passei a adotar um comportamento autocontido, distanciando-me um pouco da sociabilidade no grupo. O problema surge com a nossa nova formação que é o Clown.

Este é um exemplo de homem sério.

Óbviamente eu não vou conceituar Clown exatamente, vou dar as minhas visões idiotas limitadas do que se trata. Clown, em uma tradução direta é o Palhaço. Sim, como se já não bastasse eu to aprendendo em Portugal como ser um palhaço. Um advogado palhaço ou um palhaço advogado, como se já não houvessem vários deles a solta por ai com OAB na mão...

 Maaas, é importante deixar claro que o Clown não é a pura e simples galhofa típica dos animadores de festa. Pelo contrário, esse tipo de atitude superficial é extremamente combatida.

Existem várias diferenças entre tipos de clown e/ou palhaços e em cada tipo busca-se algo diferente, tanto na forma com que o trabalho se desenvolve, como no que tentamos exteriorizar. Como, por exemplo, os palhaços (ou clowns) americanos e que seguem a veia mais circense, que dão mais valor à gag, ao número, à idéia. Neste caso tem mais valor o efeito das ações desenvolvidas, as habilidades, malabarismos; para eles, o que o clown vai fazer tem um maior peso.

Um Clown augusto triste. Chamariam ele p/ animar a festa de aniversário?

Por outro lado, existem aqueles que se preocupam principalmente com o como o palhaço vai realizar seu número, não importando tanto o que ele vai fazer; assim, são mais valorizadas a lógica individual do clown e sua personalidade e sua humanidade exposta; esse modo de trabalhar é uma tendência a um trabalho mais pessoal. Pelo o que li os clowns europeus seguem mais essa linha. Também existem as diferenças que aparecem em decorrência do tipo de espaço em que o palhaço trabalha: o circo, o teatro, a rua, o cinema, etc.


Carlitos, o Clown do Chaplin. O Clown mais conhecido do mundo.

Os trapalhões, a trupe de Clowns mais conhecida do Brasil.

O clown é a exposição do ridículo e das fraquezas de cada um. Logo, ele é um tipo pessoal e único. Uma pessoa pode ter tendências para o clown branco (autoritário, rico, mandão) ou o clown augusto (mendigo, oprimido mas encantador, inocente, puro...), dependendo de sua personalidade. O clown não representa, ele é - o que faz lembrar os bobos e os bufões da Idade Média. Não se trata de um personagem, ou seja, uma entidade externa a nós que podemos nos "esconder" através da representação, mas trata-se de ampliação e dilatação dos aspectos ingênuos, puros e humanos, portanto "estúpidos", de nosso próprio ser.

Pode parecem fácil ser um palhaço, mas para isso precisamos atingir um nível de abertura pessoal muito grande, uma verdadeira doação da nossa parte mais ridícula para o público e para o grupo. Ser amado pelo público, como sempre diz o Pedro (nosso formador). Rá! Ai que está o grande problema: criei várias barreiras como forma de defesa num ambiente "hostil" adotando a autocontenção pessoal; como desnudar minha humanidade e realmente me expor? É difícil saltar do trapézio quando não se vê a rede de proteção a baixo.

Óbviamente neste texto não estou reclamando de xenofobia ou sentindo-me rejeitado por ser imigrante. Pelo contrário, no grupo inexiste esse tipo atitude e me sinto parte dele. São mais questões de diferenças de culturas, como acontece mesmo dentro do Brasil, e uma coisa muito pessoal que o trabalho de clown revelou. E como toda descoberta tem um gosto especialmente desafiador de novidade à ser entendida.

"O trabalho de criação de um clown é extremamente doloroso, pois confronta o artista consigo mesmo, colocando à mostra os recantos escondidos de sua pessoa; vem daí seu caráter profundamente humano. " Luís Otávio Burnier.
PS:  Muitos dos comentário sobre os tipos de clown vieram do livro: A arte de ator: da técnica à representação, de Luís Otávio Burnier, editora da Unicamp, Campinas, 2001. Para comprar esse livro e conhecer as outras publicações do Lume visite o site do Grupo

2 comentários: